segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Arcadista canguçuense


Quatro travesseiros de penas, todos na espalda. Assim acomodado escrevo algumas linhas, estas linhas, que não têm outro propósito senão encontrar outras linhas, melhores. Escreverei então sobre esses meus dias aqui em Canguçu, que estão sendo de causar inveja em muitos daqueles poetas arcadistas, pois, ainda que com menos lirismo, os lemas do morro da Arcádia poética estou seguindo à risca.

1. Fugere urbem: A cidade não vinha me fazendo bem, com todas aquelas coisas que não se firmam como possibilidades, quase-possibilidades ou possibilidades-repelentes, ou ainda possibilidades-disfarçadas.

2. Carpe diem:  Acordo com o galo, certamente acordado pela minha vó, pouco antes do sol nascer. Gosto bastante deste momento, na verdade; é muito peculiar a passagem do onírico para o bucólico. O café acelera o processo e mijo na rua, como aquela vaca, amarelo, e sai fumaça. Trabalho com meu pai cortando lenha, alimentando os terneiros, dando milho pras galinhas, ajeitando a entrada da estrada e amanhã plantaremos algumas mudas de batata-doce. As manhãs realmente passam longe da poesia, não pensei em um verso antes do almoço. À tarde o tempo é meu e estou dedicando-o à minha cabana de bambus no mato longe da casa, está ficando deveras legal. Fiz um desenho para melhor pensar a cabana e o chamei de "Alles bambu", devido a influência da cultura germânica que aqui parece tudo afetar, até os bambus.
Assim se vai a tarde: amarrando bambus com cipós) e comendo (muitíssimo). Enfim, não importa como tenha passado o dia, ir até a estrada pegar o leite perto das 18h significa o fim dele. Aí é ficar dentro de casa, se ajeitar pra dormir, ver o que poderá ser feito no outro dia, olhar pro fogo, bocejar e dormir. Ando com uma mania estranha de só conseguir pegar no sono com a ressonância dos roncos do meu pai e do da vó. É hipnotizante! Até eles dormirem escrevo umas linhas, leio outras, tusso.

3. Inutilia truncate: Não trouxe nada além do necessário para fazer essas coisas: um par de botas e umde chinelos, uma calça jeans velha e dois casacos pesados (poderia ser só um) ah é! e o Bob, meu cusco, pra elepegar um pouco de ar puro, ele andava muito em casa e dizem que fumantes passivos se estragam tanto quanto os ativos, além do mais, não me preocupo com comida, chave, boa vontade alheia e etc. Também trouxe dois livros: o novo do Duda Keiber "Potchua Babulenka", muito bom mesmo! Li até umas crônicas pra minha vó e ela também gostou; veio junto o "Depois do último trem" do Josué Guimarães, que quero reler aqui por achar que isto seja um tanto simbólico, e gosto das simbologias, smepre gostei; e claro, alguns papéis e caneta, o resto... truncate (ou tem aqui).

4. Fumare cannabis: No intervalo de todos os lemas, cujos outros esqueci.

Ademais, começaram os roncos e nem sinal de linhas melhores. Ficarei com estas mesmo e vou dormir.


Um comentário:

  1. o rural de canguçu provoca ao arcadismo mesmo. Outro tempo. Outro corpo que se performa.
    Massa o texto, me vi nessa experiência que muito se encontra com a minha subjetividade rural de canguçu.

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